Excesso de calor e viagens de férias aumentam o risco de reações alérgicas
Camarão pode causar alergia ou reações parecidas por ter bactérias
Se houvesse uma época do ano para ser eleita a temporada da alergia, essa época seria o verão.
O calor da estação somado a festas e viagens formam uma combinação perfeita para eclodirem as reações alérgicas.
O problema pode se manifestar na pele, devido ao contato com acessórios ou roupas. O suor dilui as partículas das substâncias e isso facilita a absorção pelo corpo, explica o dermatologista Agnaldo Augusto Mirandez, diretor da clínica Perfetta, em São Paulo.
É comum haver reação pelo contato com sulfato de níquel, material usado em colares, pulseiras e brincos.
Não é raro haver pacientes que nunca tiveram reações alérgicas, mas no verão procuram dermatologistas com reclamações de coceira, vermelhidão ou descamação.
O calor faz as pessoas suarem mais e, como também são comuns as roupas mais leves, há mais contato entre pele e acessórios.
Uma combinação propícia às alergias, mesmo que seja algo totalmente inédito para a pessoa.
Ninguém nasce alérgico. Essa é uma condição adquirida na vida, esclarece o dermatologista. Isso ainda é algo pouco compreendido pelas pessoas, que causa estranheza.
Muitos pacientes alegam que sempre tiveram o hábito de usar determinados colares ou pulseiras e nunca tiveram problemas.
Mas, de repente, o organismo começa a rejeitá-las. A alergia nunca surge no primeiro contato com o agente alergênico. São necessários dois, três contatos. Às vezes até centenas, afirma.
Esses primeiros contatos servem para o organismo identificar a substância e despertar os mecanismos de defesa, ocasionando a reação alérgica. O tempo necessário para haver uma reação vai depender da exposição àquilo que causa alergia, bem como da tolerância do organismo.
Maquiagens e cosméticos
Além do sulfato de níquel, a alergia pode ser causada por maquiagens e outros cosméticos. Existe um teste de contato que ajudam a diagnosticar as alergias, quando há suspeita, conta o dermatologista.
O teste é feito com filtros de papel colados nas costas, junto às substâncias suspeitas de causar alergia. O material é deixado lá por 48 horas para ver se surge alguma reação alérgica.
Isso é necessário, explica o dermatologista, porque alguns sintomas de alergia podem ser confundidos com uma simples irritação. A alergia está ligada à intolerância do organismo a uma determinada substância. É algo que demora mais para acontecer.
Enquanto a irritação é mais imediata, ligada ao atrito ou à exposição a uma substância forte, como ácidos e bases, diferencia o especialista.
Exposição ao sol
No verão, em especial, a exposição excessiva ao sol pode provocar uma reação comumente confundida com alergia. São as brotoejas. Elas obstruem a passagem do suor e isso causa coceira, vermelhidão e até bolhas na pele. Parece uma reação alérgica.
Mas só uma avaliação médica, possivelmente acompanhada por um teste, pode chegar ao diagnóstico preciso.
Nos Estados Unidos, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas acaba de divulgar uma nova diretriz para auxiliar os médicos no tratamento e diagnóstico de pacientes alérgicos.
Especialistas do instituto explicam que existem exames de sangue, além dos exames de pele, capazes de diagnosticas alergias. Mas há risco de falso positivo. É preciso avaliar o histórico médico da pessoa e confrontá-lo com os testes laboratoriais para um bom diagnóstico, afirma Hugh A. Sampson, um dos autores da diretriz, ao jornal New York Times.
Os testes padrões, explica o especialista, são passíveis de erro especialmente quando aplicados em crianças com suspeita de alergia alimentar. Há muita preocupação com diagnósticos exagerados, o que acreditamos que esteja acontecendo, afirma ele.
Os exames de sangue, por exemplo, são capazes de indicar sensibilidade a determinados alimentos. E, a partir destas informações, dietas bem restritivas podem ser adotas.
O problema é que nem sempre a sensibilidade indicada nos exames se confirma uma alergia quando a pessoa ingere o alimento. Logo, a dieta restritiva pode ser desnecessária.
Isso tem sido um problema especialmente entre crianças. Já notamos que cerca de 80% dos casos de intolerância ao leite ou aos ovos são superados, afirma Sampson.
Tal superação pode estar relacionada à maturidade do organismo. Algumas enzimas ainda precisam ser formadas, esclarece a nutricionista Patricia Ramos, coordenadora do serviço de nutrição e gastronomia do Hospital Bandeirantes. Corantes de gelatina e soja são outros alimentos que podem causar rejeição.
Bactérias e toxinas
Mas não são apenas crianças que estão sujeitas às alergias alimentares, elas podem acontecer com adultos também. Contudo, é mais raro haver casos de superação do problema porque não é mais possível contar com a maturação do organismo.
Mesmo assim, algumas falsas alergias podem desaparecer com alguns cuidados na cozinha ou na alimentação fora de casa.
Frutos do mar, bastante consumidos em viagens à praia, representam risco por infestação bacteriana.
As pessoas pensam que ingerir esses alimentos fritos é mais seguro, porque a alta temperatura mata as bactérias. Isso é verdade.
Mas a fritura não elimina as toxinas liberadas pelas bactérias, alerta a nutricionista. O mal-estar causado pela ingestão das toxinas pode ser confundido com o surgimento de uma alergia.
E não são apenas estes alimentos que estão sujeitos à contaminação, ela pode acontecer com saladas também. A imersão em água com vinagre, além de lavar folha por folha, elimina as larvas, mas não exclui todos os riscos. É preciso usar também uma solução de hipoclorito (vendido em supermercados) para garantir a segurança do alimento, recomenda a nutricionista.
Alimentos perecíveis representam outra ameaça. Maionese, a base de ovos, e leite requerem atenção, alerta.
É preciso conservá-los em ambientes refrigerados, mesmo em casa. Muitos casos de intoxicação acontecem em casa, por descuido com alimentos em casas de praia ou de campo. São locais mais quentes e com os quais a pessoa está menos acostumada a lidar, afirma.
A lista de possíveis problemas no verão não é pequena. Muitos casos são, de fato, alergia, mas outros geram apenas sintomas parecidos. É preciso cuidado para evitá-los e uma avaliação médica para atestar se realmente se trata de uma alergia.
Escrito Por: Bruno Folli
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