Introdução
O Eczema Esteatótico ou Craquele foi descrito primeiramente por Brocq, no princípio do Século XX, ao relatar o caso de um paciente com um padrão de ressecamento em placas poligonais nos membros inferiores. Desde então, muito se aprendeu acerca da fisiopatologia deste distúrbio.
As camadas mais superficiais de queratina necessitam uma concentração de 10-20% de água para manter sua integridade. O processo de envelhecimento, o uso de anti-andrógenos ou a higiene excessiva podem resultar em desidratação do estrato córneo e redução do volume e da elasticidade das células mais superficiais. O resultado é o surgimento de fissuras e edema reacional, que por sua vez apenas acentua a formação das rágades cutâneas.
Eczema Esteatótico: principais etiologias
* Banhos prolongados em água muito quente.
* Contato freqüente com solventes.
* Diminuição da atividade das glândulas sebáceas e sudoríparas (causa mais comum em pessoas na Terceira Idade).
* Diminuição da síntese de queratina.
* Baixa umidade no ambiente.
* Má-absorção prolongada de ácidos graxos essenciais.
* Deficiência de zinco.
* Doenças da tireíide.
* Doenças neurológicas resultando em baixa sudorese em áreas denervadas.
* Neoplasias (linfoma, adenocarcinoma gástrico, glucoagonoma, linfadenopatia angioimunoblástica, câncer de mama, carcinoma pulmonar, carcinoma colorretal).
* Radiação.
* Ictiose.
* Atopia.
* Fricção.
As fissuras também podem romper os capilares dérmicos, resultando em sangramento. A perda da integridade cutânea aumenta o risco de infecções locais, prurido crônico, liquenificação e até mesmo erisipela.
O Eczema Esteatótico é relativamente mais comum em homens, nos meses mais frios e de baixa umidade, e em pacientes com mais de 60 anos de idade, apesar de poder acometer pessoas em qualquer faixa etária.
Exame do Paciente
Muitos pacientes procuram auxílio medico devido à dor, ao prurido e ao sangramento nos locais acometidos. Ao exame, observa-se uma erupção generalizada ou localizada (o eczema esteatótico é mais comum nos membros inferiores, particularmente na face anterior da perna e na região do calcanhar), com aspecto de placas poligonais pleomórficas, separadas por fissuras finas e dolorosas à compressão.
Se o eczema for de evolução mais crônica, as placas podem se apresentar escoriadas, eritematosas e edemaciadas devido ao prurido.
Durante a anamnese, deve-se registrar os hábitos de higiene do paciente (freqüência de banhos, tipos de sabonetes e outros produtos de higiene que faz uso, etc), o padrão alimentar, as medicações em uso e o tipo de roupa habitual.
Os principais diagnósticos diferenciais incluem erisipela, dermatite de contato, dermatite atópica, tromboflebite e eczema numular.
Tratamento
Muitos casos respondem bem a medidas gerais, tais como reduzir o tempo e a temperatura do banho, não utilizar sabonete na área afetada, aplicar emolientes a base de petróleo (p.ex.: vaselina) e hidratantes para pele após o banho, e utilizar umidificadores de ambiente (no caso de pacientes que moram em locais frios e secos).
Se for necessário lançar mão de medicamentos, os corticosteróides tópicos são a primeira escolha. O Acetonido de Triancinolona na forma de creme (0.025, 0.1 e 0.5%) é o mais comum, devendo ser aplicado duas a três vezes ao dia. Contudo, o uso no longo prazo pode resultar em estrias e atrofia. Também deve-se atentar para o risco de efeitos sistêmicos no caso de aplicações em áreas extensas (p.ex.: síndrome de Cushing, hiperglicemia, glicosúria, etc).
Caso a lesão se mostre refratária ao tratamento clínico, é sempre prudente considerar a possibilidade de dermatite de contato, dermatite atópica e neoplasias ocultas.
Conclusão
O Eczema Esteatótico ou Craquele é um distúrbio comumente observado durante o inverno em pessoas na Terceira Idade, mas isso não significa que não possa ocorrer em outros cenários. A etiologia envolve um processo de desidratação das camadas mais superficiais da pele, que perdem sua elasticidade e se tornam mais friáveis. As lesões em placas são mais comuns nos membros inferiores e podem evoluir com prurido crônico e liquenificação. O tratamento com medidas simples e corticoterapia local é capaz de resolver a maioria dos casos, porém, pacientes com eczema refratário ou generalizado devem ser avaliados quanto à possibilidade de atopismo e neoplasias ocultas.
Link: http://boasaude.uol.com.br/realce/showdoc.cfm?libdocid=15750&ReturnCatID=1786