Sabia que seu filho pode ter a doença sem que você nem sequer desconfie? Estudo mostra que a otite média, que atinge quase 70% das crianças de até 2 anos, não apresenta os sintomas clássicos como se pensava.
Criança chorando com febre e dor na orelha (os médicos entrevistados preferem orelha, e não ouvido). Sinais que praticamente não deixam margem a dúvidas: "Só pode ser otite", "diagnosticam" os pais mais experientes. Ocorre que nem todo problema no sistema auditivo vem acompanhado de febre, dor e choro. Uma pesquisa realizada na Universidade do Sagrado Coração, em Bauru, interior paulista, acompanhou 190 crianças, do nascimento aos 2 anos de idade, para verificar a ocorrência da otite média com efusão. O que é isso? Trata-se de uma otite caracterizada pela presença de um fluido escorrendo da orelha e que, na maioria das vezes, não apresenta os sintomas comuns de uma infecção.
"Esse tipo de otite tem diversas causas, desde obstrução na trompa de Eustáquio, o canal que comunica o ouvido médio com a garganta, até processos alérgicos que causam inchaços nessa região, passando por infecções que irritam a mucosa do órgão", explica Sandra Saes, fonoaudióloga, professora da Universidade do Sagrado Coração e autora da pesquisa. Nela, 68,4% das crianças tiveram otite pelo menos uma vez, incidência expressiva não só no Brasil, mas no resto do mundo. "E, até os 5 anos de idade, cerca de 95% delas terão o problema pelo menos uma vez", prevê o otorrinolaringologista Sady Selaimen, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e presidente da Sociedade Brasileira de Otologia.
Em grande parte dos casos, os pais nem percebem o problema, que em geral sara sozinho. Mas o quadro pode se complicar, evoluindo para otite crônica e, em casos mais graves, surdez. No mínimo, esse tipo de otite causa uma perda parcial e temporária da audição e a criança pequena, claro, é incapaz de explicar que os sons chegam abafados. "Se ela estiver em fase de desenvolvimento da linguagem, poderá apresentar problemas no futuro, tanto na fala e na alfabetização quanto em atividades que exigem concentração", alerta Sandra. E quanto mais recorrente for a otite, pior. Mesmo com a audição normalizada, a criança que ficou ouvindo em surdina por um bom tempo age como se tivesse dificuldade para "separar" os sons do ambiente e compreendê-los. É como se ela não tivesse prendido a ouvir. Por isso preste atenção no comportamento do seu filho. Se ele não atende de pronto quando você o chama, aumenta o volume da televisão a todo instante, passa a mão constantemente na orelha ou vive mal-humorado, pode ser uma otite. Vale checar com o pediatra.
DÊ OUVIDOS A ESTAS DICAS
? Mantenha limpos os locais em que ele brinca e dorme.
? Não fume perto dele. Crianças expostas a fumaça de cigarro sofrem mais.
? Um gorro pode ser uma boa proteção nos dias frios, quando os pequenos estão mais sujeitos a doenças das vias aéreas superiores, fortemente associadas à ocorrência de otite.
? Na hora de amamentar, deixe o bebê mais inclinado, quase em pé.
"Quando ele mama deitado, o leite pode escorrer internamente para a orelha e irritar a mucosa, provocando a secreção", alerta a pediatra Sandra Saes.
? Bebês que mamam no peito por um ano, no mínimo, têm o sistema imunológico mais forte. Assim, resistem mais a doenças e infecções e, conseqüentemente, sofrem menos com otites.
Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0261/familia/conteudo_88163.shtm