O que é alergia medicamentosa?
É um efeito adverso a um medicamento que tem um mecanismo de natureza imunológica. É menos comum que outros efeitos colaterais observados com o uso de remédios para os diferentes tratamentos médicos. Praticamente todos os medicamentos possuem algum risco de provocar reações adversas e as reações imuno-alérgicas podem ser muito importantes, pois podem impedir a continuidade de utilização, vindo a prejudicar o controle terapêutico das doenças para os quais foram prescritos.
As reações alérgicas podem variar de discretas a muito graves, inclusive ser potencialmente fatais. Podem ser imprevisíveis, o que obriga os médicos e pacientes a estarem sempre atentos. Na dúvida o alergista deverá ser sempre consultado.
A alergia a medicamentos está aumentando. Por que?
Pela proliferação e disseminação de inúmeros novos medicamentos e de produtos de origem biológica pela Medicina moderna. A todo instante medicamentos pesquisados e aprovados são liberados a nível mundial para o tratamento das doenças humanas. Sabe-se que tanto a eficácia quanto a adversidade ou resistência aos remédios tem uma base genética. O paciente pode ser susceptível a reações alérgicas e aos efeitos colaterais. A alergia aos medicamentos e a intolerância medicamentosa podem ocorrer em qualquer pessoa, alérgica ou não, e pode depender em parte das doses ou vias de administração. As reações alérgicas verdadeiras podem ser precipitadas com exposição à concentrações muito pequenas do remédio, uma vez que são dependentes da presença dos anticorpos alérgicos chamados de IgE. O uso de combinação de medicamentos também pode contribuir para um aumento dos efeitos colaterais.
Quais os mecanismos imuno-alérgicos presentes na alergia medicamentosa?
Classicamente existem quatro diferentes tipos de reações de hipersensibilidade aos medicamentos, e um mesmo medicamento, como por exemplo a penicilina, pode causar reações por vários destes mecanismos. As vezes estes estão interligados, demonstrando a complexidade da alergia medicamentosa. Nem sempre se conhece como um remédio causa reações adversas e, então, se usa o termo idiossincrasia. As quatro categorias de reações alérgicas são: reações mediadas por anticorpos alérgicos (IgE), reações por anticorpos anticelulares (IgG), reações por imunocomplexos (antígeno-anticorpos) e, finalmente as reações imunológicas tardias mediadas por células.
Quais são os exemplos de mecanismos de alergia aos remédios? Um exemplo de reação alérgica mediada por IgE é aquela que provoca o surgimento de urticária, angioedema, erupções cutâneas pruriginosas, asma, rinite, edema de glote e até repercussão sitemica, com queda da pressão arterial, caracterizando o choque anafilático.
Nas reações por IgG temos o quadro determinado por medicamentos que atuam contra componentes da membrana das células do sangue (glóbulos brancos, hemácias e plaquetas) provocando a destruição destas e consequente diminuição de defesas, anemia ou sangramentos, por exemplo. Nas reações por imunocomplexos podemos exemplificar a doença do soro associada à administração de anti-soros de origem animal, usados para tratar certas infecções ou picadas de escorpiões, aranhas, etc. Reações imunológicas de hipersensibilidade tardia sao características das alergias de contato, freqüentes com certos antibióticos e até antialérgicos em pomadas.
- E os contrastes radiológicos e anestésicos gerais?
Os contrastes radiológicos iodados e os miorelaxantes anestésicos (curares) podem provocar reações anafilactóides, semelhantes em tudo a um choque alérgico, sem que ocorra um mecanismo de sensibilização alérgica verdadeira. Então, isto explica porque algumas pessoas apresentam manifestação "alérgica" no primeiro contato com estes produtos. Como se sabe, a sensibilização alérgica ocorre ao longo do tempo, após alguns contatos com a substância sem o desencadeamento de sintomas. Neste período é que existe a formação dos anticorpos IgE. Pessoas que já sofreram reação a prévia a estes produtos e necessitem de nova exposição às mesmas é aconselhável receber tratamento preventivo. Procure a orientação de um médico especialista.
- Ácido acetilsalicílico (AAS) e os anti-inflamatórios não-hormonais (AINH) podem causar alergia?
AAS e os AINH podem precipitar urticária, angioedema, e agravar a asma e a rinite alérgica, principalmente quando há pólipos nasais. Há outras doenças mais graves dermatológicas que podem provocar uma dermatite esfoliativa com acometimento das mucosas, e poderia então ser necessário uma internação médica especializada. Podem ocorrer reações cruz adas entre medicamentos, como por exemplo entre a aspirina e os anti-inflamatórios clássicos.
Quando suspeitar de uma alergia medicamentosa?
Sempre que surgir um sintoma coincidente com o início de um tratamento medicamentoso deve-se suspeitar de uma possível reação adversa, e esta poderá ser de natureza alérgica; uma erupção, uma coceira, urticária, inchação (angioedema), asma, rinite, diarreia, dor de cabeça, cólicas intestinais, etc..O quadro clínico poderá ser agudo ou crônico. A relação causa-efeito é demonstrada quando os sintomas desaparecem com a suspensão do remédio e/ou substituição por um outro de molécula química diferente. O alergista poderá orientar com segurança como proceder em casos de suspeição de alergia medicamentosa. Nenhum medicamento é completamente seguro e o risco/benefício deve sempre ser avaliado. Ocasionalmente efeitos colaterais, inclusive alérgicos podem surgir.
Certas condições clínicas podem estar associadas a uma maior prevalência de alergia, como por exemplo erupções cutâneas quando as penicilinas semi-sintéticas (ampicilina e amoxicilina) são empregadas em pessoas portadoras de mononucleose infecciosa. A aspirina e os anti-inflamatórios podem causar urticária/angioedema ou piorá-las.
Como fazer o diagnóstico das reações alérgicas a medicamentos?
A história clínica é muitas vezes sugestiva e a relação temporal ajuda muito a esclarecer a causa de uma reação medicamentosa. A experiência clinica do alergista e as estatísticas encontradas na literatura médica são importantes para o delineamento da alergia a medicamentos. O exame clínico da pele, mucosas, nariz, e pulmões determina a extensão do quadro alérgico apresentado. As características das lesões cutâneas auxiliam sobremaneira no diagnóstico da alergia dermatológica causada por remédios (farmacodermias). Para alguns medicamentos, como as penicilinas e os anestésicos locais, há testes alérgicos cutâneos de leitura em 15 minutos, muito confiáveis. Testes sanguíneos (RAST) podem ser ocasionalmente empregados como para documentar a alergia à penicilina. Em casos de reações graves deve-se investigar o possível acometimento imunopatológico de outros órgãos, tais como o fígado, rins, pulmões, sistema nervoso central, coração e articulações. A apresentação clínica é de suma importância. Na avaliação da dermatite de contato podem ser utilizados os testes alérgicos de contato.
Como é o tratamento da alergia medicamentosa?
Em primeiro lugar se deve suspender o medicamento suspeito de provocar a reação alérgica. Podem ser empregados anti-histamínicos (orais ou injetáveis), e derivados da cortisona (orais, tópicos cutâneos, e injetáveis). Em caso de reações sistêmicas graves, como a anafilaxia (choque alérgico, as vezes com edema de glote) deve-se empregar a adrenalina, geralmente subcutânea, e outras drogas com atividade antialérgica, garantir respiração adequada e níveis depressão arterial e garantir uma boa hidratação .
Qual a conduta a ser adotada?
Documentar a alergia medicamentosa e educar o paciente e os seus familiares para evitar o emprego destes medicamentos e aqueles que possam apresentar reações cruzadas. O alergista é peça fundamental na orientação das escolhas para o tratamento medicamentoso. O paciente ou a sua família deve informar as escolas, locais de trabalho, médicos, clínicas, e hospitais, os diagnósticos fornecidos pelo alergista, para a prevenção de reações alérgicas medicamentosas. O uso de alertas médicos em cordões, pulseiras, braceletes, e também nas carteiras de identidade e nos prontuários médicos, torna-se fundamental na conduta alergológica preventiva.
Fonte: SBAI