A alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico a uma substância estranha ao organismo. No caso da alimentar, as substâncias estranhas são certas proteínas presentes nos alimentos.
Há poucos estudos sobre o problema no Brasil, mas segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), entre 6 e 8% das crianças e entre 2 e 3% dos adultos têm alergias alimentares.
Os especialistas suspeitam de que alergias sejam resultado de uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Alguns sugerem que a carência de vitamina D (que, em teoria, protegeria indivíduos contra as alergias) esteja na raiz desse aumento. Outros apontam, por exemplo, o uso excessivo de detergentes. Ou o tipo de parto da mãe (nascidos em partos cesarianos teriam mais tendência a desenvolver alergias).
Mecanismo da alergia
Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No Brasil, aquelas à proteína do leite de vaca, ao ovo, peixe e crustáceos estão entre as mais frequentes.
Falando à BBC Brasil, a médica alergista Renata Cocco, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) explicou o mecanismo desencadeador da alergia à proteína do leite - cuja incidência vem crescendo entre crianças brasileiras.
"Ela começa na infância. No desmame, a mãe que volta a trabalhar passa a substituir o leite materno pelo da vaca. O sistema imunológico do bebê reconhece aquela proteína do leite da vaca como um inimigo. Na tentativa de expulsar esse inimigo, o organismo pode produzir sintomas variáveis, desde a presença de diarreia com sangue até urticária e vermelhidão generalizada, inchaço de boca e olhos, culminando, em casos mais graves, na anafilaxia", disse.
Diante de riscos como esse, como proteger crianças do contato acidental com alimentos tão onipresentes quanto leite, ovo e peixe?
Vida em estado de alerta
Desde julho de 2016, uma nova lei obriga fabricantes de alimentos no Brasil a incluírem no rótulo informações sobre a presença de alergênicos. "Houve progresso", disse à BBC Brasil a advogada Cecília Cury, mãe de criança com alergia alimentar e coordenadora do movimento Põe no Rótulo, que oferece suporte e esclarecimentos a pessoas que vivem com alergias alimentares.
"Mas o país parece não ter acordado para a seriedade do problema", acrescenta.
Escolas
Para crianças em idade escolar, no entanto, comer fora nem sempre é uma questão de escolha. E segundo Cury, para alunos com alergias alimentares o cenário nas escolas brasileiras não é bom. "Nas escolas públicas, a lei é nova e obriga o acolhimento de alunos com necessidades alimentares especiais. Caso a escola não respeite a lei, cabe denúncia", disse Cury.
Já nas particulares, explica a advogada, "o assunto está mais cru. Aqui não há a coerção, a lei não obriga a escola a acolher as necessidades dessa criança".
"Algumas respeitam, outras dizem: 'não temos vagas, não temos como atender às necessidades da criança'."
A advogada reconhece que falta no país uma lei que cuide do assunto. "O caminho é fazer uma minuta de projeto de lei e batalhar, ou seja, fazer lobby, advocacy."